"Ouviste o que foi dito aos antigos: não
adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo o que olhar para uma mulher
cobiçando-a, já no seu coração cometeu adultério com ela" (Matheus,
5:27-28).
Esta passagem evangélica lembra o drama de
uma mulher adúltera que foi salva por Jesus de um iminente apedrejamento. Ela
corria descontrolada pelas ruas de Jerusalém, perseguida por homens fanáticos
que desejavam cumprir uma prescrição da lei de Moisés. Ela havia sido apanhada em
flagrante adultério, e a lei era sumamente severa na punição de atos desta
natureza. A lei mosaica prescrevia punição rigorosa para a mulher e o homem
adúlteros, muito embora, na grande maioria dos casos, somente a mulher fosse
penalizada.
Os escribas e fariseus a trouxeram à presença
de Jesus e disseram-lhe: "Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante
adultério. Moisés ordenou que pecados desse gênero seja punidos com o
apedrejamento. Que dizeis vós? (João, 8:3-11). Era uma situação verdadeiramente
embaraçosa, pois, se Jesus dissesse: "Podem lapidá-la", estaria
negando toda a finalidade de seu advento entre os homens. Por outro lado, se
dissesse que ela não deveria ser apedrejada, seria acusado perante as
autoridades religiosas de estar contrariando a lei mosaica, o que constituía
uma grave heresia.
Em face da indagação por parte dos
acusadores, Jesus respondeu: "Aquele que se julgar sem pecados, atire a
primeira pedra." Esta sentença esfriou o ânimo dos acusadores, que
abandonaram o local, e a decisão final do Mestre foi uma recomendação à mulher:
"Nem eu te acuso, vai e não peques mais" (ESE, cap. X, ítens 12 e
13). Jesus despediu a mulher sem condená-la, embora soubesse das imperfeições
que dominavam os corações daqueles homens; prova disso está na atitude por eles
demonstrada, quando o Mestre deu a sua resposta; sentindo seus corações cheios
de sentimentos negativos, jogaram fora as pedras que estavam em suas mãos e se
retiraram.
Eles eram adúlteros porque alimentavam o
ódio, o rancor, a vingança e o falso zelo religioso; preocupavam-se muito em
cumprir uma lei de caráter transitório, implantada por Moisés, mas deixavam de
lado a prática das leis eternas e imutáveis, contidas no Decálogo. Deste modo,
o adúlterio, nos moldes como foi exposto por Jesus Cristo, não deve ser
compreendido apenas no sentido restrito da palavra ou da forma como é entendida
pelos homens. Deve ser encarado com um sentido mais amplo, pois a verdadeira
pureza não está apenas nos atos, mas também no pensamento, porque aquele que tem
o coração livre de sentimentos escusos, nem sequer pensa no mal.
ADÚLTEROS, portanto, são todos aqueles que se
entregam aos maus pensamentos em relação ao seu semelhante, não importando se
conseguiram ou não realizá-los. O homem evangelizado, que jamais concebe maus
pensamentos em seu íntimo, já conquistou uma posição moral mais elevada; aquele
que ainda não consegue libertar-se de tais pensamentos, mas consegue
repelí-los, está a caminho de alcançar uma elevação espiritual. Mas, todo
aquele que se compraz em pensamentos inferiores, alimentando-os em seu coração,
ainda está sob jugo de influências negativas, e são adúlteros na também acepção
da palavra.
Quando Jesus asseverou que quem olhar para
uma mulher, alimentando um mau pensamento em relação a ela, já cometeu
adultério (ESE, cap. VIII, ítem 5), referia-se naturalmente, àqueles que se
enquadram na última categoria: são todos aqueles que se comprazem com os
pensamentos inferiores que aninharam em seus corações; e se não chegaram a
concretizar seus propósitos, é porque certamente ainda não se lhes deparou a
oportunidade desejada.
Fonte: Curso Básico de Espiritismo - 1º ano - FEESP - Federação Espírita do Estado de São Paulo
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